Chulé, le parfum de la Californie?
Este é, na práctica, o primeiro post (agora que entrei na blogosfera, niguém me pára com estes termos geeks) em que nós verdadeiramente contamos alguma coisa do que está a acontecer aqui por estas bandas. A questão da escolha do tópico assume, consequentemente, importância acrescida e não é para ser tomada de ânimo leve. Afinal de contas, já cá estamos há quase um mês, bastante mais do que a maioria dos sítios que dizemos de boca cheia que conhecemos (tipo: Praga? Conheço perfeitamente! Já lá estive duas vezes. Castelo, Kafka, Karlov Most, americanos bêbados, I know it all!).
Sem mais preâmbulos, dediquemos esta primeira crónica californiana ao Chulé.
Pensarão V. Exas que, longe de quem nos tem a amabilidade de indicar as alturas em que trilhamos percursos estilisticamente menos evoluídos, nos teremos certamente convertido à candura da meia branca de desporto a decorar o "téne" local, e que tal, em combinação com o fantástico calor californiano, estará a provocar um súbito surto de actividade sudorífera. Não!!! Apaziguai os vossos espíritos!! Não padecemos desta maleita que em tempos (uns definitivamente mais recentes do que outros) apoquentou alguns engenheiros da nossa praça.
O odor de que vos falo é, infelizmente, bastante mais insidioso e generalizado. A verdade é que, nos últimos dias, tinha vindo a sentir na escola, ocasionalmente, um certo odor desagradável que me parecia bastante difícil de identificar claramente e de localizar.
Confesso que o meu primeiro instinto foi snifar a minha própria roupa e alguns pontos mais recatados da minha fisionomia (refiro-me às axilas, btw...). Afinal de contas, desde que comecei a vir de bicicleta para as aulas (há 2 dias "úteis" atrás) demoro cerca de 15 minutos para recuperar completamente o fôlego e meia hora para deixar de pingar suor pela cara abaixo. O que é perfeitamente compreensível, uma vez que moro a pelo menos 6 blocos do campus. Uns bons 600 ou 700 metros!!! E com subidas que chegam por vezes a ultrapassar o 1%! Para aí, ou menos!!!
Mas não, não era isso. Não é que a minha roupa cheirasse propriamente a jasmim acabado de colher (se é que o jasmim se colhe...), mas não era esse o odor. Se calhar, as pessoas ao meu redor não tomavam banho. Se calhar, apesar dos apelidos de ressonância germânica, anglófila, judia e afins, estes americanos sejam mas é todos de ascendência francesa ou belga e nutram uma afeição tal ao sabonete e ao champôo que, à semelhança das vacas na Índia, só os podem consumir em circunstâncias cerimoniais muito específicas... No entanto, uma observação mais cuidadosa pareceu excluir também esta hipótese, pois a aproximação a estas pessoas não aumentava em nada a intensidade deste odor.
Até que hoje, quando estava reunido com o meu study group na biblioteca (na verdade, eles estavam reunidos para resolver problemas de estatística - que eu tive o bom senso de fazer o teste e dispensar - e eu estava a a gozar com eles) e mais uma vez a leve fragância se fez sentir, tudo fez sentido. Olhei para o meu colega e ele estava com a sua chinela pendurada no pézão.
Claro!! Se juntarmos à estranha e aparentemente ubíqua fragância o facto de estes tipos terem quase todos o estranho hábito de andarem sempre de chineleca como se estivessem para ir para a praia e de os últimos dias terem sido dos mais quentes em San Francisco nos últimos anos (toda a questão do tempo na California merece só por sim um post especial, se calhar em vários capítulos), tudo faz sentido. 80 pessoas numa biblioteca sem ar-condicionado (todo o edifício, aparentemente, não tem ar condicionado - não é necessário, dizem), num dia quente e sem nenhum artefacto que impeça o contacto do pezão sujo com o ar circundante (vulgo, sapato) só podia ter este resultado...
Mas, enfim, em Roma sê romano. Beware, Haas School of Business! Amanhã, haverá pelo menos um par de Havaianas pretas e respectivos pés mal-cheirosos a passear pelo campus.
Aardvark
PS: Para aqueles que estão preocupados com a qualidade higiénica das instalações em que passo tanto tempo, faço o reparo que posso estar a forçar um bocado a ideia para vosso entretenimento. O cheiro não era assim tão desagradável e poderoso. Era "apenas perceptível". Liberdade poética, digamos...
PS2: Esta não era provavelmente a crónica de estreia que muitos esperavam, em que eu contasse como era o meu dia-a-dia aqui, o que estava a achar da escola, dos colegas, do ambiente, da cidade, de San Francisco, etc. Essa crónica há de aparecer (ou transparecer em todas as outras), mas neste momento iria demorar muito tempo (não sei se já repararam, mas eu não sou muito poupado a escrever) e eu estou um bocado debaixo de água. E não, isto não era um trocadilho infame com o nevoeiro semi-omnipresente desta área...
2 Comments:
Olá,
bem é a primeira vez que cá venho, não tenho net em casa e só hoje, que estou em Lamas, é que pude cá dar uma vista de olhos, obviamente não li nada, é mta letra e não me apetece ler neste momento, qdo tiver a minha ligação em casa ponho-me a corrente de tudo e ponho as novidades em dia.
beijo e abraço
Nao pensei que fosse possível... mas pelo que posso agora constatar, o calibre da verborreia assume contornos a rondar o "ancestral"! :P
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